O Sol por Testemunha

Reza a lenda que o mar é traiçoeiro. De facto, são várias as histórias de finais infelizes tendo como protagonista o gigantesco oceano. Há, contudo, outro “inimigo” a rondar as praias, principalmente no Verão. Aparentemente, o sol irá ajudá-lo a cometer o “crime perfeito” – um corpo lindamente bronzeado, por exemplo. Capcioso, no entanto, tempos depois ele virá cobrar o preço por testemunhar e agir como cúmplice desse “crime”. Isso porque, em geral, os efeitos verdadeiramente maléficos acarretados pelas radiações solares só se irão reflectir alguns anos mais tarde.
Mas o sol é tentador e a cor que dele resulta é mais ainda. Por isso, há uma fila enorme de aspirantes ao bronze neste Verão. O problema é que a maior parte das pessoas se expõe à luz solar em horários inadequados, com pouca ou nenhuma protecção. Para muitas delas, ficar bronzeado é um alvo que deve ser atingido a qualquer preço. Recentemente, os dermatologistas até criaram uma expressão para classificar esse grupo de “despreocupados”, o termo inglês sunaholics, traduzido por “viciados em sol”.
A esses incautos, um aviso: na melhor das hipóteses, a exposição demasiada ao sol e sem protecção rende manchas na pele (melasmas), perda de elasticidade e envelhecimento precoce (fotoenvelhecimento). Já na pior delas, um cancro de pele. Esse, sem dúvida, é o que mais assusta. Esse tipo de tumor é cada vez mais comum. Em Portugal, as estatísticas apontam 10 000 novos casos por ano.
Os malefícios solares são provocados pelos dois tipos mais comuns de raios ultravioletas: o UVA e o UVB. Segundo o médico oncologista José Octávio Ferreira, o UVA é o mais perigoso e agressivo. “Ele é o responsável pelo cancro melanoma e está presente a qualquer hora do dia”, informa. Já o UVB é mais forte entre as 10 e as 16 horas e responde pelos cancros basocelular e espinocelular, um pouco mais leves, mas muito mais frequentes. “O UVB é também o principal causador do fotoenvelhecimento e de manchas na pele em aproximadamente 50% dos casos,” acrescenta o
Dr. Ferreira.
Essas radiações têm maior impacto nas pessoas brancas, loiras e de olhos claros. Isso acontece porque o organismo delas apresenta baixo teor de melanina (principal pigmento da pele, responsável pela sua coloração), oferecendo, consequentemente, pouca defesa. Os morenos, mulatos e negros, por sua vez, têm mais resistência, pois possuem alto índice de pigmentação. O bronzeado, aliás, resulta de maior produção de melanina. Ao contrário do que muitos pensam, a cor bronze não significa saúde, mas sim uma forma do organismo se proteger contra o sol.

Protector e mais protector
Porém, admita-se: um corpo bronzeado no Verão é muito charmoso. E, na essência, não há nada de mal em apanhar sol, até porque a luz solar, quando moderada, é benéfica para o ser humano, prevenindo inclusivamente a osteoporose. E o bronze pode ser conquistado, sim, desde que os banhos de sol sejam tomados com cautela – guarda-sol, bonés, e chapéus, óculos de sol e muito, muito protector solar. Os cremes bronzeadores também são permitidos, desde que contenham um efeito protector. A tecnologia da protecção ao sol está tão avançada e difundida que até algumas roupas, principalmente as de algodão, estão a ser banhadas industrialmente com filtros.
É bom lembrar que, quanto mais branca é a pessoa, mais alto deve ser o Factor de Protecção Solar (FPS) do protector. Recomenda-se, no entanto, que ele não ultrapasse o FPS 32, para evitar reacções adversas. Mas esse factor já é suficiente, garantindo, aproximadamente, 95% de protecção contra o UVB.
Devem ser levados em consideração a quantidade de tempo e o horário de exposição. Os dermatologistas aconselham a não “torrar” mais de uma hora seguida. Já o horário proibido, por consenso, fica entre as 10 e as 16 horas. É nesse período do dia que as ondas de UVB são mais intensas. Isso não significa que no início do dia e no fim da tarde o protector solar seja  , pois o UVA actua sempre que há luz solar, em qualquer horário, em qualquer estação. Sendo assim, sem desculpas: é protector solar o tempo todo. Dentre os elementos químicos ideais para a protecção desse raio, um dos mais importantes é o Dióxido de Titânio, geralmente o “culpado” pelo rasto branco algum tempo depois da aplicação do protector.
Não adianta apenas passar o protector solar no início do dia e achar que o efeito se prolongará até ao fim da tarde. As campanhas publicitárias dizem que não, mas a probabilidade do produto sair na água é realmente grande. Não bastando, a maior parte dos protectores deixa de fazer efeito cerca de duas horas após a aplicação.
Segundo o dermatologista Moisés Albuquerque, pode ser feita uma excepção com os protectores solares que contenham o princípio activo do momento, o Tinosorb. Ele tornou-se o preferido dos dermatologistas justamente pela sua maior durabilidade, cerca de quatro horas. Quando contraposto ao componente químico mais frequente dos protectores, a Avobenzona, que protege apenas durante uma hora e meia, conclui-se que ele é realmente muito mais fotoestável.

Bronze alternativo
Para aqueles que não têm tempo ou disponibilidade para ir à praia, o segredo pode estar num método artificial, mas seguro: os cosméticos bronzeadores. “O uso de cremes autobronzeadores é uma forma saudável de ficar bronzeado,” garante Albuquerque. Esta não é nenhuma novidade do mercado de cosméticos e os resultados ainda não se equivalem às horas de sol à beira do mar ou da piscina. O efeito dura cerca de três dias, mas o resultado pode ser visto horas depois da aplicação.
O princípio activo dos autobronzeadores é a dihidroxiacetona (DHA), que produz a melanoidina, um pigmento de coloração semelhante à da melanina. O processo é 100% inofensivo, já que trabalha os aminoácidos das células mortas da pele. O único risco é o de pequenas manchas, devido a uma maior quantidade do produto em determinada região da pele. As manchas desaparecem num ou dois dias (veja o quadro). “Ainda assim, o método não dispensa o uso do protector solar e deve ser evitado antes da exposição ao sol,” lembra Albuquerque.
Artificiais e seguros, só mesmo os cremes. Mantenha-se longe das máquinas de bronzeamento. Apesar da tentação de ter um efeito instantâneo, o resultado a médio prazo será uma pele áspera, descamada e manchada. “O bronzeamento artificial é o principal factor de fotoenvelhecimento e de cancro de pele. E isso já depois de poucas sessões,” alerta Albuquerque. “O efeito dessas máquinas é o mesmo proporcionado pelo sol do meio-‑dia, pois contêm as mesmas radiações de raios UVA e UVB,” justifica o oncologista José Octávio Ferreira. Além de fazer mal à pele, estudos oftalmológicos concluíram que os olhos também são prejudicados.
Nenhum médico em sã consciência aprova o seu uso. Acredite, o bronzeamento artificial pode ser mais traiçoeiro que o próprio sol.
Fernando Torres
Jornalista
 

Essas radiações têm maior impacto nas pessoas brancas, loiras e de olhos claros. Isso acontece porque o organismo delas apresenta baixo teor de melanina (principal pigmento da pele, responsável pela sua coloração), oferecendo, consequentemente, pouca defesa. Os morenos, mulatos e negros, por sua vez, têm mais resistência, pois possuem alto índice de pigmentação. O bronzeado, aliás, resulta de maior produção de melanina. Ao contrário do que muitos pensam, a cor bronze não significa saúde, mas sim uma forma do organismo se proteger contra o sol.

Viciados em sol
Veja algumas características dos sunaholics (pessoas que não resistem ao desejo de apanhar sol).
- Expõem-se muito ao sol, sem se protegerem.
- Ignoram o risco de desenvolver cancro de pele.
- Sentem-se infelizes e ficam irritadiças sem os banhos de sol.
- Nunca estão contentes com o bronzeado.
- Ultrapassam os limites saudáveis de exposição aos raios ultravioletas.
Fonte. Archives of Dermatology

Como usar o creme autobronzeador
- À noite, antes de dormir, limpe e higienize a pele com algum produto esfoliante (isso irá remover as células mortas). Em seguida, seque bem todo o corpo.
- Passe o creme autobronzeador de maneira uniforme. Use um pouco menos nas articulações, como joelhos e cotovelos.
- Lave as mãos imediatamente (para evitar o risco de manchas passageiras). Se preferir, use luvas.
- Vista a roupa só quando o produto for totalmente absorvido pela pele. Pode-se visualizar o efeito após cinco horas.
- Faça a manutenção duas vezes por semana. Caso alguma região do corpo apresente manchas, esfolie o local.

Terapia natural
Além de cuidados com os protectores solares, a alimentação e a ingestão de líquidos naturais são duplamente importantes para a hidratação da pele nesta estação. Já sabe, mas vale a pena repetir, que quanto mais verduras e legumes à mesa, melhor para a pele – e para todo o organismo. Isso acontece porque o corpo capta mais facilmente as suas energias, evitando a libertação de toxinas durante o processo de digestão.
Beba água à vontade, pelo menos dois litros por dia; ela irá garantir uma boa hidratação. Os sumos naturais também caem bem. “Os melhores são os sumos concentrados, pois guardam mais de 90% das vitaminas. Os mais indicados para a pele são os de acerola e laranja, pois têm mais vitamina C”, sugere o dermatologista Moisés Albuquerque. A vitamina C, aliás, é a responsável pelo mecanismo de cicatrização da pele. Não é por acaso que a maior parte dos cremes antienvelhecimento a usam como principal componente.

in Saudelar.com

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